19/10/2017

Fora, Pedro! Bem-vindo, Tomé! - Rosário Breve n.º 526 in O RIBATEJO de 19 de Outubro de 2017 - www.oribatejo.pt





Fora, Pedro! Bem-vindo, Tomé!



Ando há tempos para V. dar conta de dois livros intimamente ligados a Santarém cuja leitura fiz com zelo, lápis, agrado e proveito. Ainda não vai ser desta. E ainda não vai ser desta porque a chaga incendiária – que nos mata tanta gente, nos destrói tantas habitações, nos arrasa tantas matas e nos pulveriza tantas empresas – é a recorrente e implacável temática de cada dia, semana a semana, mês a mês.
Pus-me a odiar São Pedro, coitado do barbudo das chaves-do-Céu.
Na minha mocidade (e na Vossa), as estações eram quatro: e começavam à hora marcada do dia certo. A Primavera existia, vinha no bico das andorinhas, o arvoredo rejubilava, a temperatura era suave & adequada. O Verão amarelejava de grandes fenos, extensos trigais, fundia o azul do céu no azul do mar, os rios ainda não eram fossas pecuárias. O Outono? Era todo Vivaldi: revoadas de folhas revoluteando como arcadas de violino, havia o prazer das luvas de lã, as botas de borracha pelas ruas de terra sem macadame. O Inverno era frio conforme a competente e obrigativa disposição legal desse tal São Pedro que, naqueles bons tempos, trabalhava bem & devagar. Tudo isto deu o berro. Tudo isto ardeu.
A estiagem prolonga-se indecentemente há meses de mais. Em plena segunda metade de Outubro, a brutidade solar, sem ozono que superiormente a estorve, esturrica-nos a nossa própria sombra, que, pelo chão, feita carvão, se esbraseia mais do que nós até. É uma coisa intolerável, este calor sem freio nem calendário. É um túnel de fogo sem água ao fundo. E o imbecil do Trump a rasgar acordos pró-climáticos. E o aqueci/esqueci/mento global. E os glaciares a virem por aí a baixo feitos sopa. Porra, porra, meus senhores.
Como poderia eu, pois, cronicar-vos a mote das minhas leituras pró-santarenas? Livralhada agora, agora que por todo o lado só se lê, vê & ouve que “Olha, subiu o número de mortos; olha, mais uns tantos desaparecidos; olha, os feridos não param de aumentar…”? Ná, leiturices para ninguém.
Eu exijo que chova como deve ser. Estamos em Outubro, catano! Quero o frio que nos é devido em Novembro para podermos matar & escorrer com limpeza e sem mosquedo calorífero & putrefactor o belo porco enquanto roemos a bela castanha assada – ou cozida com funcho.
E olha, ó Pedro tão pouco São, vê se te reformas e dás lugar a outro. Olha, dá-o a São Tomé, por exemplo, que só haveria de crer numa política territorial anti-fogos quando houvesse alguma para ver.



Sem comentários:

Canzoada Assaltante