10/11/2013

BAILE SOZINHO ou O INVERNO DE QUELUZ - 37 (10 de Maio de 2013)


37

Ib.
                                                                                                                                               

Começas criança mas ninguém te diz onde é o cinema.
Acabas percebendo a lata das bolachas, o ter de não estar vazia.
Percebes que a canção é mais do que um poema.
E chega a noite de ontem ao amanhã do dia.
Como cucos, os velhos são relojoeiros.
E nós, ex-crianças, disparamos morteiros.

Começa-se sempre pela louça, água-corrente nem sempre.
Mas há um horror ao lixo, que a limpeza é diferente.
É o mesmo que em pobreza a gente ser gente.
E as vagens-verduras sustentam a Mãe que morrer vai,
sei lá eu se é pecado ser nado ou nada ou d’onde-meu-Pai.
Dez de Maio, duplo-mil-&-treze, entretanto sai

o Sol inclemente, que com a Lua troca, indif’rença p’la gente.
Pela Arregaça antiga, que de Coimbra orla uma sandes paga,
a Matilde de há pouco (a louca dos meus versos) s’apaga,
de coxas varizmarmóreas, ante um viúvo desejoso,
uma ejaculação d’aguadilha, cuja emissão é o gozo
de um homem que não vou ser.

Amanhã, a manhã há-de ser de amanhecer.
O meu mais velho cruza morenamente a infância terminal.
Mandaram-no longe matar pretos em nome de Cristo-Portugal.
Tenho pena da Matilde, Gracita, aproveitam-se dela.
Já fez 60 anos, mas é branca de lírio. A beijar, é amarela.
Acontece exactament’agora. Escrevo bem. Acho mal.

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Canzoada Assaltante