13/10/2013

Rosário Breve n.º 328 - in O RIBATEJO de 10 de Outubro de 2013


Uma anedota itálica com mulher distante só p’ra disfarçar

Que o senhor Ricardo Araújo Pereira seja melhor contador de anedotas (e melhor cronista também, já agora) do que eu – não é nem de espantar nem de grande pólvora descoberta agora. Mas que um senhor Rui Machete o seja, isso já, a mim me ata dois nós: um na garganta e outro, mais a sul, nas tripas. Nunca tive especial apetência erótica por virgens, muito menos das ofendidas, como me parece quer um senhor Rui Machete (a)parecer(-se). “Inexactidão factual” não é, de facto, exacto. É só mentira. É como dizer “inverdade”. Ou, tratando-se de pessoa fisicamente cega, chamar-lhe “invisual”- porque “invisual” é o que se não vê, invisível portanto, e não quem não vê.
Destes preciosismos retóricos inventados por bezerros-de-lata chamados Assessores vive a (in)comunicação (as)social dos nossos tristes dias de tão-mau-tempo-no-canal. Eu até era para perder mais do meu e do vosso tempo com isto, mas não ceder vou à tentação. É que, pela galeria onde assentadamente dou escrivão assento a esta crónica hebdomadária, vai passando um monumento respiratório, todo carne e todo luz-de-olhos. É uma senhora. Vive e trabalha aqui perto do Café onde diariamente inscrevo o bolor do meu ócio. Permiti-me Vós que vo-la diga:
Olhar adjudicado a orçamento de veludos nacionais, tem, por pestanas, aranhas movediças. O rosto vale por maçã arrebatada, daquela golden que se faz camoesa. Ivóreos dentes afloram o carmim do lábio quase grosso. Queixo ergonómico tamanho concha-da-minha-mão. Pescoço que se alabastra em nervura tensa. Pele global de tensa elasticidade, que dá ganas de morrer tactilmente e de olhos abertos para não perder um segundo de filme. Peito que vos não digo. A sul do diafragma, todo um ventre valendo o postal de todo um estuário azul. Coxas de colunar templos gregos, dentre os que ela um deles. Rótulas de madrepérola por joelhos que a breve saia roça de comichões de chita. Artelhos de mínima protuberância: como soluços ósseos de mais espuma que osso. E pés de uma ascendência de asas ícaras: por mais de cera que de palmípede.
Já uma vez lhe franqueei a conduta salva da divisória de vidro do Café da Rita.
Pestanejou-me o óbolo do cavalheirismo.
Fui fulminadamente feliz no instante mesmo, de onde me resultou evitar a felicidade alienígena à hora a que a minha senhora esposa volta do trabalho cansada de tanto-cabrão-no-governo-e-fora-dele.
Não, não cronicarei, à falta de ser sequer meio Ricardo Araújo Pereira, sobre um senhor Rui Machete, cujo rosto, aqui há muitos anos (sei-o de cor, juro que sim) o Expresso descrevia como “suave e civilizado”.
É figura que me parece elfo já nascido com óculos, como o Harry Potter, à maneira dos gatos, ou dos ratos, mais fedorentos.

E, anedota por anedota, inverdade por mentira, semblante que só merece que eu, por senhor o tratando, o faça sempre em cursivo itálico.

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Canzoada Assaltante