13/11/2010

Rosário Breve n.º 180 in O RIBATEJO - 12 de Novembro de 2010 - www.oribatejo.pt

Eunuco tinha pensado nisto


Antero de Quental classificou-nos uma vez como “país de eunucos”.
O apodo é duro, mas talvez (muito) verdadeiro. E não há viagra que nos salve. A não ser que.
A não ser que, na impossibilidade de outro 25 de Abril (por isso mesmo que já não temos/somos Povo para tanto), reimplantássemos a República. Outro 5 de Outubro, mas agora a sério e a cores. Começava-se pelo Ribatejo, até para podermos ir aos toiros, às enguias e aos melões nos intervalos da golpada.
Olhai o filme operacional: o comité de cabecilhas reunia-se na Casa dos Patudos, amandava-lhe com umas botelhas de Alpiarça em simbólico preito a José Relvas e arrancava dali às duas da manhã, mesmo que aos tropeções nas zundapes. Telemovilizava-se logo para tudo quanto fosse barricada arriba do Tejo. Tipo assim: Feira-dos-Santos-Cartaxo-escuto; atenção-atenção-Torres-Novas-a-GNR-alinha-ou-não?-escuto; Magos-Magos-Salvaterra-ou-não-salva?-escuto; ’tou-’tou-Constância-Mação-a-coisa-vai-ou-não?; p’la República-Nova-de-Portugal-ora-viva-o-Sardoal; alô-alô-Barquinha-como-vamos-isto-Tomar? Abr’antes-que-depois-faz-se-tarde; Ourém-Ourém-a-coisa-já-Chamusca? Barquinh’Alcanena-acim’abaixo-daí-ó-Cartaxo.
Etc.
De manhãzinha, os eunucos, ou melhor, os muito-machos deixavam as motorizadas e as mulheres ao pé da rulote de bifanas que fica à saída da Golegã, ali mêmó-lado das bombas de gasolina, e alava para Lisboa em peitosa e estrepitosa campanh’alegre (salvo seja). Eu também lá ia, armado em Fernão Lopes.
Terreiro do Paço, Arsenal, Monsanto, Centro Comercial Colombo, Xabregas, Pontinha, Frágil, Lux, Kapital e Curraleira: tudo nosso, minha gente, que a malta é de Benavente.
E depois estoirávamos só umas rolhas de castiço imitador de espumoso e deixávamo-los mas era em paz lá c’a república deles e voltávamos na ordem possível para casa, que isto de se ser eunuco e ter mulher na mesma só pode dar ou melão ou enguia ou toiro.
Escuto.

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Canzoada Assaltante