09/10/2010

IDEÁRIO DE COIMBRA - podografias de retorno – 85 (3)




Óbidos, uma vez ou duas.

Peniche, mais que essas vezes.
E estas vozes bramando ainda no lodo
do tempo (v)ol(vi)ido.
Que me digo?
(Ao balcão dO Nosso, a velha zuca da
meia tarde deixa cair-espalhar-se pelo chão
uma chicotada de cêntimos.)
Que te vivo?
(Chinelos de enfermeira batida em
corredores terminais, formóis de pré-
-morgue, médicos novos e compais de
pêssego surripiados ao economato –
nos pés da velha zuca.)
Santiago do Cacém, penso que uma vez só.
Vila Nova de Milfontes, duas.
Caminha, uma.
Vilarinho e Valarinho.
Campo de Besteiros e Cabanas de Viriato.
O Ribatejo de uma água só, campinamente.
Andorinha e Ardazubre.
Alhadas e Fontela.
E a vida e a morte,
ela por ela.


*

Verso da medalha,
o teu rosto:
Mãe.


*


Plenilúnio numismático,
rigoroso, matemático,
lua que aveluda a vida:
sou daqui mas já vim tarde,
sou do sol mas ele não arde,
ele não arde a vid’ardida.

*


Ó moça de sugáveis mamas
(quais moluscos ou bivalves),
espero tenhas a quem amas,
e que o ames mas te salves.


*


Uma revoada de folhas de árvore
devidissimamente paginadas
vieram amanhã em meu socorro,
por amizade, resgatar-me


das más leituras e das boas encíclicas,
da febre amarela e das dores cíclicas,
do éme rebelo de sousa , que tanto ousa
falar do que não sabe nem nele cabe,


de política, de viagens,
de meus sonhos e de piores imagens,
de obras incompletas
(graças a deus obsoletas),
do artur-jorge-e-d’académica,
da plaqueta sanguínea por natur’anémica,
da penínsulibérica, do raio da tia
que envenenou a noite & o dia,
da restauração e da Praça Velha,
qu’em Coimbra é das Cebolas mas nunca das vermelhas,
uma revoada de folhas de árvore
devidamente paginada,
um misto de vida,
de tudo e de nada.

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Canzoada Assaltante