30/08/2010

IDEÁRIO DE COIMBRA - podografias de retorno – 15 - fragmento 7



No Raul Brandão, isto:

(…) atrás de esmolas, vivendo uma prodigiosa vida interior, assistindo na sua alma a um espectáculo sem par.

*

Perfis das pessoas, como se elas foram (pretérito mais-que-perfeito de ser, não pretérito perfeito de ir) moedas. Efígies. Esfinges. Este homem de olhar dentro do cigarro esquecido. Aquela mulher de casaca verde-muco, absorta noutra-casa-noutro-ano-em-outra-vida-dela. A pele depois do banho, na cama, flanela de flanela. O ímpeto das crianças salteando as barreiras, potros livres, até mais ver, por extensos relvados não murados. Os livros esperando-nos, sábios, rumorosos, na estante ao lado da portinhola que guarda a ginja, o capilé, a aguardente de abrunhos, os copos de colecção. A Checoslováquia em 1968. O imperador de pobres, Maximiliano, austríaco entre cactos e sombreros. A choldra ante D. Carlos I e último. Perfis das pessoas deste milénio-século-década-ano-mês-dia-hora-instante-agora-já-foi-já-não-é. Sempre vi pessoas, gostando mais do que via do que quem via. Casais também, gosto de ver casais – mais agora, que já não sou metade de um.

2 comentários:

jorge vicente disse...

mas gostar do que se vê
também
é gostar de quem se vê.

Daniel Abrunheiro disse...

Pois é.

Canzoada Assaltante