11/02/2010

A Ser

© Tina Modotti - Julio Antonio Mella’s typewriter (1928)


Souto, Casa, noite de 11 de Fevereiro de 2010




Quando houver isto, e o mais, por escrito, poderei reler para confirmar que, breve embora, hei sido. É sensível, a fluvialidade dos planos: ser (ir sendo, ser indo), fenestrofotogramas de comboio, a cebola-novelo da infância (mais e mais impositiva à chegada do outono pessoal), a galeria de recorrentes rostos que recusam esfumar-se lá porque de mortos. Través, o fio técnico da expressão, seja ele o que for, se for. Pois do Tempo as sequências têm consequências. Esta noite, o nome do meu amigo Guilherme Pais voltou. Éramos amigos – e amigos de Mr. Cairo. Fácil e irrecusável, a associação mental ao Projecto-Poe de Alan Parsons. Ou uma localidade suíça chamada Roche. Não importa. Importa, mas não é importante para nada ou alguém. E é importante, a tramitação provisória que é (o) viver? Sê-lo-á, por única instância conhecida ao dispor de cada um. Decorre mais isto: que quero à literatura como casuística. Se calhar, quero haver já sido – ainda não sei, nem sei se o saberei, nem se o quererei saber. Quis dizer: quando houver isto por vivido, serei.

1 comentário:

Joaquim Jorge Carvalho disse...

É tão verdade, Daniel! A cebola da infância pulsa mais à chegada do Outono. De longe nota-se mais a perda. É muito útil e, a posteriori, muito triste que a gente não tenha consciência, então, da irrepetibilidade daquele ouro!
Abraço fiel.
QJ

Canzoada Assaltante