24/02/2010

Prosa de Feira

Souto, Casa, madrugada de 23 de Fevereiro de 2010


Movimentos de pessoas, viaturas, ventanias, sombras – como marés enroscadas num eixo.
Olhares e pontes partilhando isto: a travessia de águas.
Coincidência de se ser sonhado fora do corpo com os já-vividos que alter(n)am a consciência – e a coincidência mesma.
Centelhas de metalúrgicos, centelhas de vulcões, paralelismos da matéria com a matéria que invalidam a teologia toda e mais alguma.
Pessoas fechadas em quase-aldeias, com armas em casa e animais prisioneiros delas súbditos.
Carreiros assoalhados de areia em pinhais íngremes para o mar.
Manhãs de mercado popular a céu aberto, profusão de queijos, batatas em sacas de rede, galerias argentinas de peixe muito fresco, tabernas de que mana um perfume forte de dobrada com feijão, carne assada, frangos crucificados em gólgotas de carvão, roxuras de vinho, braçadas húmidas de flores, segredos altifalantes, bois grandes como igrejas, cães pequenitos e rápidos como andorinhas, adolescentes art&oficiando paraísos de fuga, ceguinho com lata-ranhura ao peito, chineses silenciosos sempre a oriente, irmãzinhas conventuais orando doçarias, os dois comunistas reformados da terra batendo dominó até à vitória final, a joalharia explodida das peanhas de fruta – e em alguma casa, chegada a noite, alguém sonhar com alguém.

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Canzoada Assaltante