25/11/2009

Oito para Naturistas



Souto e Louriçal, 17 e 18 de Novembro de 2009



1. AVES

Aves suaves brandas em doçura,
caligráficas linhas de cor clara,
rara cada uma e muito cara,
de brando suave rosto na altura.

Gosto de vê-las passar, gosto.
São o vento feito penas esvoaçadas.
Logo que passadas, até aposto
que ao futuro tornam, olvidadas

de quanto o passar custa, se pensado.
Não brando ou suave, tal passar
vale o que vale, ao vento voado.

Mais não digo, que espero tornem.
Ora é de noite, por ora dormem.
Vou passando eu, é noite, acordado.



2. PEDRAS

Jóias pobres.
Ao decote todas, porém, da Senhora Terra.
Cristais de ninguém.
Só as crianças lhes conhecem a
íntima
ínfima
infinita
raridade.

Somo-las todos,
a todas.



3. RIBEIROS

Veias que mercúrio abrem à flor do olhar.
Estreitos e estritos milagres populares.
Vias-vidas que a gente vê passar
e ligar os nenhures a lugares.

Visitados por aves e lavadeiras
e pela meninagem fugaz do fugaz Verão,
todos os ribeiros no fundo afinal são
o mercurial milagre da condição.



4. MULHERES

Sinto-as como emanações do porvir sabido.
Reconhecem tudo: quintais, ervas, ruas, homens
nem tanto.
Entre a garça e a ema, o lúcio e a arara: são.
Entre a rosa e a mansarda, o ribeiro e a pedra: são.
Nunca como os homens deixam de ser.
De estar,
nem tanto.



5.SEXO


Não tem nada que saber.
Nem ensina nada.



6. NUVENS

Dedadas do Invisível Fantasma.
Móveis sobre as casas, suspensas das casas.
Volúveis províncias desertadas a frio.
Maravilhosas no Verão, sonhando-se invernais.
Excepções que confirmam a Regra do Azul.
Sobrenaturais.



7. MÃOS

Aranhas: sem veneno nem teia nem celeiro.
Expostas às moscas.



8. ROSAS

Um tempo houve em que as rosas puderam ser apenas flores, coisas vermelhas do reino vegetal, outras brancas, amarelas, rosas sempre. A poesia porém chegou – para transtorná-las. Passaram, involuntárias, a envelopar desejos consuetudinários, triviais, rosas púbicas, negras portanto, roxas rosas, portanto matrimoniais à flor-senhor-dos-passos. E por aí.
Agora quisera fossem, não mais que rosas, o que as rosas são.
Mas não.

2 comentários:

Anónimo disse...

5.SEXO

Não tem nada que saber.
Nem ensina nada.

ó Abrunheiro, isto é todo um contra-programa de um anti-manual de Educação Sexual. Muito bem! Que se quilhe o falazar dos pedasexologocratas!

Daniel Abrunheiro disse...

Sim, que se quilhe(m).

Canzoada Assaltante