26/07/2009

Da Pessoa Plena de Imagens - IV

IV. GOTA

Água para ser vidro em o frio da manhã.
Renda vegetal descendo pensativa ao chão.
Frutos que o chão toma, cavalos perto.
Gota de água a orvalhar o perfil da folha.

Da fábrica de tijolo, hoje morta, a chaminé subindo.
Caminhos de branca pedrícula, pontuados das cabras.
Tema do coração comum ao do olhar: viver:
saber vias benignas, onde houver fruta e ninguém.

Nos campos aguados, longos invernos foram.
Homens e mulheres formigaram em vão talvez.
Quando hoje topamos a gota, a História afinal topamos.
Vozes dizem nomes que partiram além-do-mar, vozes sem conta.

Já não acreditamos nos cantores da televisão.
Ganhou óxido a tabuleta dos correios à porta da mercearia.
A Vala do Norte não tem já peixes nem enguias, morreram todos às trevas químicas.
Atiraram-lhe carcaças de frigoríficos como entulho.

Minha igual vida vossa: visão de campo, pela manhã.
Frio no mundo, beleza ainda assim sendo cristal.
Notícia de astronautas, memória de operários.
Range a tabuleta, cai ao chão, para frutos, a gota.



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Canzoada Assaltante