14/02/2009

HABITAÇÃO E POVOAMENTO DE POMBAL (12)

12

Tarde de 14 de Fevereiro de 2009

Morredouro.
A orquídea lança som.
(Isto é prosa.)
Toda a riqueza é na panela: o cabelo-alga dos grelos, a batata a que os Canadianos chamavam raiz, a senhora cenoura pictórica, o alho perfunctório, a cebola totalmente maternal, o nabo jucundo e honesto, o aurífero azeite, o grainho tomate honesto também, a chouriça economia-do-lar – caldo de um poeta sem dentes e sem esperança e com idioma.
A orquídea lança som.
Hoje o Sol voltou ao país.
Hoje o Sol sabadá-se todo, puta velha, masculina.
No Souto, com a Senhora Alzira e o Senhor António, antes com o casal António e Alice Mota: no café, falando de saúde, de internet e do Sol que faz.
Algum desespero nas tripas.
A Buenos Aires de Borges, por Carlos Alberto Zito (tradução de Serafim Ferreira, Editorial Teorema, execução gráfica e impressão por Rainho & Neves, Santa Maria da Feira, Outubro de 2001, por 2 euros, ontem, na pombalense K de Livro, atrás da Prisão Antiga, fim da manhã.)
Viver em morredouro.
Viver em ouro.
Alcançar um dia a casa de madeira, o espeto de pau do ferreiro.
Uma cerveja sangrada devagar, atenta, benigna.
O abandono latente – e as primícias.
O lado miliciano do coração.
E o coração propriamente dito: desculpa para quase tudo.
A Mãe envelhecendo mais um pouco no sofá mijado a desconta-gotas.
A puerilidade tão sábia das gatas economistas-do-lar, bonitas como flores de cabelo torrado a luz e a golpes de chuva.
Necessidade de muitas palavras irremissíveis, digo: hontaluz / gaspárdio / senoctural / reventismo / coliferoz / zapurdanista / telmaquia / ropidastro / sentonete / cloripidistra / zelmuquímaco /estordinal / bengaplor / tuntaliz / sentemuros / gárdio / policoiso / émaco / ónio / cheza / coliflor / flor / sentargem / bastro / custro / roderiquigues / lhãmorta / cavalo / gospistrada / ão / saturnico / çolar / bangue / izola / rândula / guíça / foite / ctar / meleguismo / tidade / ondera / termodlismo / sacúra / alise-com-mice / ôdevèra / burges / ropintinismo / celúbico / túbal / pontinhismo / termostrada / lúpia / banzia / perdói / saluscrinar / anismo / rotal / meiro / eão / sânzio / criso / oiro / e / toiro./
A ORQUÍDEA.
A ORQUÍDEA LANÇA.
A ORQUÍDEA LANÇA SOM.



A ORQUÍDEA LANÇA SOM

Alabastrino corrépio dengoso
tura fura marveloscrastia.
Tia crispa fôro puro gozo
além-da-vilha-púrpuramaquia.

Sempótotal? Ão, que redilharga.
Corpora tur sengue derredor.
(A vida é maila vez amarga.
Pão transpira, são, mui ressuor.)

Tento. Língua e tento.
Mélia voj górpe alindritrista.
João Manuel dos Alves Baptista.
Arreguenunquilhofazporsóssustento.

Pó total?
Ão.

Aqui quieto, na antemão. Sábado, 14. Canal do Panamá, excelsa-magna-obra-de-engenharia. Conhecimento-de-ouvir-falar. O meu peito todo marinheiro em doca-seca. O diabo da breca. O meu amor contra certas coisas. A voz da tinta. (A ninguém o digo, mas penso já formalmente a carta de desped(e-v)ida.) Fevereiro. Lígure. Portenho. Havana abana. Fev’reiro: outro em meu corpo. Sustentáculo e cós das calças. Ser ainda. Nascer voluntariamente. Ser de tinta. Não se compadecer-me. Ser-me ainda. Atirar nozes de um balcão de sardinheiras. Íntimo do frio, tu-cá-tu-lá com o gelo. Tárctido. Robentoso. Mágico de uma tristeza crestomatiável. (Mas amável.) Olha o Berno! Olha o Salústio! Mínimo cálice de floração.
Ão.

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Canzoada Assaltante