03/01/2007

À Beira dos 50, um dos Amigos Diz ao Outro

Mas depois também lhe disse –
E quando se me acabar o corpo?
Não podes só fiar-te, Alice,
no espesso gesso de meu torso.

Junturas firmes, virilhas boas –
são tudo coisas que eu tenho.
Mas não tenho, antes sou-as:
qualquer di’ é dia d’antanho.

E depois, Alice? Como será
ouvir as vozes que já ouço,
que enrugam galinhas no pescoço

e dão às mãos sardas tão pardas?
Alice, Alice, no rés-do-chão
sonho mansardas, contigo não.




Caramulo, noite de 2 de Janeiro de 2007

1 comentário:

Manuel da Mata disse...

Belo soneto, Daniel!Um dia, porque o tempo corre inexoravelmente, todos havemos de sonhar com mansardas e não com Alice.
Até eu!

Canzoada Assaltante