23/09/2005

Rol para o Lavadeiro

Castanheiro grande liberando ouriços.
Erva estiada sulcada por gatos transterrenos.
Couves carnudas com seu quê de maternal.
Lenha pronta para a machadinha.
Som raspante da carrinha do peixeiro.
Da obra ao lado, inofensivas obscenidades pedreiras.
Estatismo do muro.
Sardaniscas rápidas.
Céu de esmalte coalhado de nuvens.
Veias da parra translúcidas de sol.
Eternidade desde que se escreva: “Eternidade”.
Valor da respiração.
Sapatos de borracha nos pés do louco.
Vontade de versos.
Assador frio escamado de sardinha.
Roupa no varal sem corpos dentro.
Sexualidade apaziguada.
Cabelo e unhas crescendo: filme mudo sem piano de fundo.
Zoeira de sonhos.
Limoeiros carregados de ouro ácido.
Visão do vizinho lavando o carro.
Gato do vizinho dormindo sob a laranjeira vizinha.
Respiração do mesmo gato.
Valor da respiração do gato.
Paciência do castanheiro.
Aldeia.


Tondela / Botulho, tarde de 22 de Setembro de 2005

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Canzoada Assaltante