17/06/2005

Uma Tristeza Pegada

Trago-vos hoje à consideração o drama de uma muito específica forma de violência: a doméstica. A (muito) mais comum é a exercida pelo homem sobre a mulher. Menos comum é a que chega da mulher e se quebra no marido. Naturalmente, ambas são a mesma coisa: uma coisa má.
A região onde moro tem sido abalada por um alarmante número de casos de uxoricídio. Isto é, de morte violenta e deliberada de mulheres às mãos armadas dos respectivos maridos. Tenho ido aos locais onde o sangue acontece. Ao contrário do que poderia esperar, os cenários dos últimos crimes não são barracas de papelão e zinco, mas vivendas de boa pedra. O que quer dizer que a miséria, quando psicológica, não olha a pretextos de pobreza material.
Sempre à mistura andam o álcool e/ou a droga. E a incultura. E a desinformação. E a amargura. A Igreja é contra o divórcio. Dois dos uxoricidas sobre os quais escrevi, não puderam aceitar a separação de que as esposas necessitavam para viver. Por isso, mataram-nas, transformando-se instantaneamente em viúvos penitenciários.
Uma tristeza pegada. Em plena era da internet, parece que a desinformação está mais forte do que nunca. Somos uma sociedade que ouve falar de quase tudo, mas também somos uma sociedade que não sabe dizer quase nada. Por isso matamos.
Porque não sabemos viver.

Palavras de Vidro, in Correio da Marinha Grande, 29 de Junho de 2001

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Canzoada Assaltante